Domingo, 20 de abril de 2025
Redenção

Primeira cacica de aldeia no PA quer romper com garimpo, que deixou seu avô milionário na Amazônia

“Não queremos garimpo. Era isso que as lideranças passadas tinham costume. Eu tenho uma outra visão e uma nova jornada, de não desmatar ou poluir nossos rios”, defende Kôkônhyjtí, primeira cacica da aldeia Kranhkrô, criada em 2010, na Terra Indígena (TI) Kayapó.

A ideia de preservação contraria as atitudes de seu avô. Conhecido como coronel Tutu Pombo, ele é considerado o primeiro cacique a autorizar a exploração de terras indígenas pelo garimpo ilegal e o setor madeireiro, na década de 1980.

O líder indígena chegava a lucrar R$ 6 milhões por ano com a exploração de terra, segundo a pesquisa “Narrativas de uma sociedade indígena na fronteira econômica: o caso dos Mebêngôkre Kayapó do Sul do Pará”.

Empossada no último sábado (8), a cacica Kôkônhyjtí, de 37 anos e mãe de 4 filhos, diz que vai apostar no fortalecimento da economia local a partir do artesanato e das pinturas indígenas e lutar pelos direitos das mulheres.

“Hoje meu intuito é estimular a geração de renda através do nosso artesanato, pinturas e também da colheita. Hoje já existe a plantação de cacau, que além de nos alimentar também dá o sustento a muitas famílias”, detalha Kôkônhyjtí.

“Meu papel aqui é não só ocupar um espaço entre os homens, mas sim lutar em prol do meu povo, principalmente pelos direitos das mulheres, seja na cidade ou dentro da minha comunidade”, acrescenta a cacica, em entrevista concedida na língua nativa Kayapó, a Mebengokré, e intermediada pelo tradutor Pykatire Kayapó.

A TI Kayapó tem 3,2 milhões de hectares e abriga aproximadamente 6,3 mil indígenas de dois povos: Mebêngôkre, do qual a cacica faz parte, e os indígenas isolados na região do Rio Fresco. Homologada em 1991, a área abrange os municípios de Bannach, Cumaru do Norte, Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu.

A Kranhkrô, uma das 34 aldeias que compõem a TI, reúne mais de 280 indígenas e fica na estrada Águas Claras, a cerca de 30 km do centro de Ourilândia do Norte e distante 872 km de Belém.

Tuto Pombo faleceu em janeiro de 1992. À época, Niti Kayapó, seu filho, assumiu o cargo de cacique. Foi ele quem começou a adotar medidas para a retirada de garimpeiros e madeireiros da aldeia, com ajuda da Polícia Federal.

(Por Tayana Narcisa, Brenda Marques, g1 Pará — Belém. Foto: Alerhandro Rafalski e Rian Costa)