Terça-feira, 22 de abril de 2025
Redenção

Especialistas negam que estudo da Nasa indique que Brasil ficará inabitável em 50 anos

Circula nas redes sociais a afirmação equivocada de que um estudo da Nasa aponta que o Brasil ficará inabitável dentro de um prazo de 50 anos por causa das altas temperaturas. É fato que o mundo está mais quente e o país também está vivendo as consequências, mas o estudo não diz isso.

A pesquisa existe e é de 2022, mas ganhou repercussão somente neste mês. Ela foi feita por pesquisadores que trabalham na agência espacial americana e foi publicada na “Science Advances”, uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo. O trabalho faz alertas importantes sobre o aumento de eventos com temperaturas e umidade além do suportável para as pessoas.

No entanto, não cita o Brasil, não tem dados relevantes sobre a América Latina, e muito menos diz que esses locais ficariam inabitáveis em determinado período.

Assinada por Colin Raymond (autor principal), a pesquisa faz uma análise de dados históricos entre 1979 e 2017, mapeando as temperaturas do bulbo úmido (não é a temperatura dos termômetros, mas uma medida que relaciona calor e umidade do ar para avaliar o estresse térmico).

“Não há absolutamente nenhuma informação sobre isso e qualquer base científica para dizer que o país ficaria inabitável. O estudo não faz uma projeção de como a Terra ficaria em 30 anos, até porque isso dependeria da análise de outras variáveis e não só da temperatura de bulbo”, explicou Pedro Camarinha, PhD em mudanças climáticas e pesquisador no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), esclarecendo que a informação compartilhada nas redes sociais está distorcida.

“Esse tipo de afirmação ignora as tentativas de reversão e até mesmo a capacidade do ser humano de se adaptar”, acrescentou.

A climatologista e divulgadora científica Karina Lima reforma essa explicação. “Concluir que o Brasil se tornará inabitável é um salto grande em relação às conclusões deste estudo específico. É cravar algo que este estudo não cravou”, disse. “É essencial que consigamos limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2°C para diminuir os riscos. Também é fundamental a mitigação das mudanças climáticas, pois precisamos nos preparar, aumentando nossa resiliência, para o mundo que já temos e para o que teremos”.

(Por Poliana Casemiro/G1. Foto: AP Photo/Charlie Riedel)