Sábado, 19 de abril de 2025
Redenção

Deputados e senadores ‘reinam sozinhos’ com emendas a cidades de prefeitos aliados

Levantamento feito pela Folha de S. Paulo mostra que 110 deputados e senadores concentraram, sozinhos, emendas enviadas a municípios de prefeitos aliados que terminaram reeleitos em 2024 e que, portanto, podem ajudar em suas campanhas em 2026.

A análise considerou os parlamentares que destinaram 70% ou mais das emendas individuais recebidas por cada uma dessas cidades nos últimos dois anos. Com os repasses, esse grupo seleto de congressistas reinou quase sozinho, em termos de verbas, em 216 municípios de correligionários.

Na prática, isso significa que prefeitos e prefeituras exibem fotos e vídeos de ambulâncias, pavimentações e outros investimentos viabilizados com o dinheiro enviado pelos congressistas, projetando seus nomes como opção única entre a população local, sobretudo no período pré-eleitoral.

As cidades beneficiadas por esse conjunto de parlamentares são menores e mais pobres que o geral: 84% delas têm até 20 mil habitantes (contra 69% no país) e 38% registram um índice de desenvolvimento humano “baixo” ou “muito baixo” (contra 25% no país), considerando o IDHM 2010.

A maioria delas se concentra em apenas três estados —Minas Gerais (28%), Bahia (17%) e Piauí (10%).

Já os 110 congressistas analisados integram partidos da esquerda à direita, sendo as legendas que mais aparecem MDB (21), PL (19), PSD (15) e PT (12). Pouco mais da metade desses políticos “reina” em dois ou mais municípios com suas emendas, enquanto a outra metade predomina em apenas um município.

Graziella Testa, cientista política e professora da FGV, explica que enviar emendas a redutos eleitorais não é um problema em si, já que, em princípio, esse dispositivo foi criado para descentralizar o orçamento e garantir verbas para demandas locais de regiões não alcançadas pelo governo federal.

“A questão é o uso eleitoral das emendas. Esse risco é muito aguçado quando elas são de cunho individual. O ideal —e se discute isso desde 1992 no Brasil, com o escândalo dos anões do orçamento— é que elas sejam predominantemente coletivas, o que tornaria mais difícil usar os recursos na competição política direta”, diz.

(JÚLIA BARBON E NATÁLIA SANTOS/SÃO PAULO, SP –FOLHAPRESS. Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil)